A contemporaneidade da matéria — Exposição de Escultura
17 > 20 MARÇO I GALERIA FBAUL I EXPOSIÇÃO DE BÁRBARA BULHÃO E CAIO VENTURA I CURADORIA DE LUÍSA PERIENES
Exposição de Escultura
A contemporaneidade da matéria
“O artista estuda amorosamente a sua matéria, escruta-a até ao fundo, espreita o seu comportamento e as suas acções; indaga os modos em que uma longa tradição ensinou a manipulá-la para fazer com que ela germine com inéditos e originais ou para prolongá-los em novos desenvolvimentos; e embora a tradição de que a matéria está carregada pareça comprometer a ductilidade e torná-la pesada e lenta e opaca, ele procura recuperar a sua frescura virgem, que seja tanto mais fecunda quanto mais inexplorada.”[1]
As esculturas de Bárbara Bulhão são estruturais e executadas com materiais de construção utilizados nos nossos dias, como o cimento armado e a borracha. O mérito de saber manipular e combinar as matérias que utiliza resulta num conjunto coerente de esculturas que, sendo de carácter abstracto, testam os nossos sentidos visual e táctil pelo seu peso, geometria e opacidade. Funcionam como restus de construções; sobre esta ideia de resto, diz Perniola que o resto da arte será aquilo que na experiência artística se opõe e resiste à homogeneização, ao conformismo, aos processos de produção de consenso massificado, presentes na sociedade contemporânea – uma orientação que não se move no sentido da obra como monumento.
Caio Ventura, escultor brasileiro, nascido num país de luxuriante vegetação, apela para a importância dos recursos naturais e, através de um discurso poético, tece ao género humano, que tenta cada vez mais restringir o papel da natureza em prol de uma árida mecanização, uma contundente crítica. Fragmentos humanos moldados em gesso, pedaços de corpo ou órgãos que pretendem viver ligados por cabos e braçadeiras de aço à natureza aprisionada, simbolizada aqui pelos cactos vivos em balões de ensaio, e pelas raízes, suportes, demonstram que, no âmago da análise, existirá sempre uma simbiose ligando o homem à natureza.
Luísa Perienes
Professora Auxiliar
Escultora
Março 2015